Resenha crítica do filme Ensaio Sobre a Cegueira

AUTORA DA RESENHA: ARY

O filme que Fernando Meirelles apresenta ao público em sua versão do best-seller de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”, relata a história de uma que entra em colapso quando ocorre um cadeia sucessiva de cegueira, que se alastra rapidamente como uma epidemia altamente contagiosa que não possui uma explicação, nem de onde vem, porque contagia ou que tipo de enfermidade se trata. Diante disso, o governo decide colocar todos os infectados em quarentena em um antigo hospício, mais parecido com um campo de concentração, sendo os cegos abandonados à própria sorte. Além disso, havia uma limitação da matéria necessária para a subsistência ( alimento) e as forças armadas ficavam vigiando o perímetro para que ninguém pudesse sair.

As personagens que são apresentadas no filme “ensaio sobre a cegueira” não são  marcadas pelos seus nomes e, sim, pelas suas caracteristicas e peculiaridades. Dentre elas, existe uma única mulher que enxerga, a personagem principal do filme, que não foi infectada inexplicavelmente, porém ela finge estar cega para acompanhar o seu marido nessa quarentena, o médico. Esta, acaba presenciando não só fisicamente, como todos os infectados, como também visualmente, os sentimentos que são descobertos no decorrer do filme.

Fica explícito na obra que o homem quando colocado numa situação-limite, como a fome, a sede e a libido, traz consigo uma carga de sentimentos diversos, como a humilhação, racismo e principalmente a intolerância. Na ética, a liberdade tende ser considerada um fundamento para a responsabilidade do agente, para o desenvolvimento de seu ambiente, de suas estruturas para conseguir a satisfação para o meio. Não há como negar que a situação enfrentada pelos indivíduos quando colocados nesta situação-limite, acarreta o despertar de sentimentos que são repugnantes na sociedade que hoje estamos inseridos. Entretanto, acredito que o filme ,não somente demonstrou que mais da metade população quando colocada em situação de extrema miséria e necessidade, regride aos tempos da caverna, homens primitivos, egocêntricos e não regidos por um direito do bom convívio, mas sim a lei do mais poderoso.

Acompanhando o entendimento de Karl Marx, um revolucionário alemão e intelectual, que desde o século 18 já conseguia prever que se os indivíduos são privados de suas próprias condições materiais de existência, isto é, se suas condições objetivas de existência são propriedade privada, não há verdadeira liberdade, ou seja,  reduz à mera sobrevivência.

No decorrer da trama, a epidemia não consegue ser diminuída com as práticas que foram tomadas pelo governo e de uma forma rápida o mundo todo fica num estado de cegueira total. Entretanto, como exposto ab initio, somente a esposa do médico  possui o sentido da visão e  presencia e vislumbra os sentimentos que se desenvolvem no decorrer da trama. Através dos seus olhos, nós, meros espectadores, conseguimos absorver uma característica bastante marcante no filme, na qual o homem, quando colocado em uma situação de escassez e necessidade, acaba se tornando um ser primitivo, violento, ganancioso e enganador. A luta pela subsistência faz com que ocorram guerras entre os grupos, que se formaram dentro do antigo hospício, pela comida, pelo domínio de poder  e por atitudes que são absolutamente proibidas em uma sociedade, como os estupros, violência sexual e atos de extrema violência.

O filme Ensaio Sobre a Cegueira deixa uma indagação: será que  as pessoas podem  ter uma reação tão desumana, sem ao menos ter tentado buscar uma solução, simplesmente enxergando só por um lado, e enclausurando o problema em um  espaço físico para não ter que encará-lo? Não há como fugir, pois o problema sempre nos alcança, tanto para aquele que, para se livrar dele, tenha que se unir aos que tentam ser superiores aos problemas, como para aquele que tenta ter outra visão e coloca os seus interesses sobre o bem comum. Pode se obter o poder, mas a cegueira ao final sempre vai nos alcançar. Devemos retirar a faixa dos olhos e lutar  para que sejam solucionados os grandes problemas da humanidade, caso contrário,  a cegueira, ao final, nos alcançará também.